sábado, 18 de abril de 2009

Fragmento livremente adaptado para esse blogger provindo da dissertação!

Se o ator pode ser um exemplo ou um projeto para os homens fora do teatro, talvez o seja no sentido de refutar a condição de acocorado ou de homem cadeira, nas palavras incendiárias de Rimbaud. Repulsa que não se dá somente contra os apáticos, mas também aos que vivem agachados, homens amortecidos e reduzidos às necessidades fisiológicas: corpos adequados cuja funcionalidade de gesto está longe de ser eficaz. Em suas cadeiras esses homens “sonham com poltronas grávidas, com pequenos amores de bebés-cadeiras[1]” nos versos do poeta. (1995, pág. 124)

Para alcançar esse novo ator era necessário, antes de tudo, reivindicar o próprio valor do fazer teatro, alcançar seu significado em uma sociedade que colocava o cinema como uma espécie de inimigo (pode até ter sido, mas...)...Se homens de teatro como K. Stanilávski foram a fundo em suas pesquisas e mostraram uma inquietação sobre seu próprio fazer, e se o fizeram de modo tão efetivo a ponto de que as reverberações estão por aí em dias atuais, foi porque tiveram a decência de não aceitar que uma condição externa fosse o motivo de uma renovação. O que concordamos com Artaud, seria uma revolução de catastrados. O inimigo desses homens era o próprio teatro, com seu expediente, a necessidade de resultados sobre a cena, os inúmeros críticos, os inúmeros atores de talento, e nada de respostas àquela antiga pergunta de Espinosa: o que pode um corpo? Nas palavras de Artaud “é preciso insistir na idéia da cultura em ação e que se torna em nós como que um novo órgão, uma espécie de segundo espírito” (pág. 2, 2006). Tratava-se de estabelecer no centro do fazer teatro a potência criadora para uma renovação. Isso foi possível a partir daquele que é capaz de comungar efetiva/afetiva(mente) com o espectador: o ator. O exaltado “corpo sem órgãos” tratava-se do corpo que deixa de ser regido por um organismo condicionado aos hábitos, clichês e automatismos. ( Le caca!!!! aqui exaltado! diria Artaud). É preciso acreditar ou criar nossos inimigos (ficção sim, mas não uma mentira desmedida, nem mesmo infame)! E eles estão por aí! E permanecem aqui como se fizessem parte nós, os tais inquilinos. Algumas vezes chegamos a sentir a apatia tomando conta de nosso corpo-mente...é preciso crueldade!!! é preciso vida! orgânica ou não orgânica...é preciso se colocar a pensar sobre nosso ofício! recuperar a utopia ou anagogia de que nos fala Ruffini e alcançar aquilo que nos coloca como ativos criadores...e inquietos e alegres em nosso ofício!!!

Voltemos ao extremismo da ação sem medo de julgamentos, sem se deixar levar por aquilo que pode ser num primeiro momento pensado sobre isso...vamos a fundo! Vamos agir! Agir no mundo e permitir que ele aja em nós!

Vamos nos alegrar potentemente com o que fazemos!

e chega de homens cadeiras! chega de acocorados! chega de agachados!
isso é um exercício ético...e não moral!


[1] Fragmento do poema Assentados de Arthur Rimbaud.



Muse - Knights Of Cydonia

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